quinta-feira, 14 de junho de 2007

Oscar Niemeyer




“...A última função clara e definida do homem _ músculos que querem trabalhar, cérebros que querem criar para além das simples necessidades _ isto é o homem. Construir um muro, construir uma casa, um dique, e pôr nesse muro, nessa casa, nesse dique algo próprio do homem, é retirar para o homem algo desse muro, dessa casa, desse dique. Obter músculos fortes à força de os mover, obter linhas e formas elegantes pela concepção. Porque o homem, ao contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica do universo, cresce para além do seu trabalho, galga os degraus das suas próprias ideias, emerge acima das suas próprias realizações. É isto o que se pode dizer a respeito do homem. Quando as teorias mudam e caem por terra, quando as escolas filosóficas, quando os caminhos estreitos e obscuros das concepções nacionais, religiosas, económicas, se alargam e se desintegram, o homem arrasta-se para diante, sempre para a frente, muitas vezes cheio de dores, muitas vezes pelo caminho errado. Tendo dado um passo à frente, pode voltar atrás, mas apenas meio passo, nunca o passo todo que já deu. Isto é o que se pode dizer do homem: dizer-se e saber-se. Isto verifica-se quando as bombas caem dos aviões negros sobre a praça do mercado, quando os prisioneiros são tratados como porcos imundos e os corpos esmagados se esvaziam imundos, na poeira. Pode verificar-se deste modo. Não tivesse sido esse passo, não estivesse vivo no pensamento o desejo de avançar sempre, essas bombas jamais cairiam e nenhum pescoço teria sido cortado. Receiem-se os tempos em que as bombas não caiam enquanto existam os bombardeiros, pois que cada bomba é uma demonstração de que o espírito ainda não morreu. E receiem-se os tempos em que as greves cessem, enquanto os grandes proprietários viverem ainda, pois cada greve vencida é uma prova de que se está dando um passo. E isto pode saber-se_ receiem a hora em que o homem não queira sofrer mais e morrer por um ideal, pois que esta é a qualidade base da humanidade, é o que a distingue entre todas as coisas do Universo.
…”

Jon Steinbeck em As Vinhas Da Ira

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